A Copo de 2010 e a Tragédia da Africá do Sul
Aproxima-se o início de um dos maiores eventos esportivos do capitalismo no mundo. Entre os meses de junho e julho deste ano acontecerá a Copa do Mundo de futebol da FIFA (Federação Internacional de Futebol) na África do Sul. A venda de direitos televisivos já começou, os contratos assinados para a construção das obras, quase todas faraônicas, já começam a ser pagos e os lucros extraordinários já são contabilizados para a entidade máxima do futebol e as grandes empresas que patrocinam o evento.
Por trás do discurso oficial propalado pela FIFA e pelo governo fascista da África do Sul, de que o evento irá reforçar o desenvolvimento do país, criar empregos e reduzir a desigualdade, a realidade, a cada dia, se apresenta mais límpida para a observação de todos. Os exorbitantes recursos públicos destinados à construção de mega-estádios desviam os investimentos de obras básicas essenciais ao avanço de um território marcado pela exclusão social e pelo racismo institucionalizado. Iniciativas para a edificação de hospitais, escolas, habitação, saneamento básico, infra-estrutura, transporte e outras deficiências são negligenciadas em nome da construção de obras que se mostram inúteis quando se pensa no desenvolvimento e no combate a desigualdade evidente. Os recursos do povo sul-africano são pilhados dia-a-dia, tanto pelas empresas estrangeiras, quanto pela elite, negra e branca, do país. Expulsões e massacre tornam-se ações cotidianas da polícia fascista contra o povo pobre, que o velho Estado tenta eliminar para que o mundo não veja as reais condições de pobreza e miséria que aflige a grande maioria da população da África do Sul.
Os operários que participam das construções dos estádios são explorados notoriamente: contratados por meio de negociações temporárias, são violados em seus direitos mais básicos e, na maioria das vezes, esquecidos; a pressão devido ao cumprimento de prazos exerce uma carga que afeta de forma devastadora a vida dos trabalhadores, provocando também numerosos acidentes; os baixos salários e o desrespeito, por parte das construtoras, dos direitos trabalhistas, impedem qualquer melhoria na vida das famílias que se envolvem na construção das obras, fazendo só aumentar os lucros das grandes empresas. O CNA, partido do ex-presidente Nelson Mandela, e que governa o país atualmente, usa de seu passado supostamente ativista contra o regime de segregação racial (o apartheid), para se perpetuar no poder, montar esquemas de corrupção e servir ao imperialismo e às classes dominantes da África do Sul. Dá total apoio à realização da copa do mundo de futebol e repete, como um papagaio, todos os engodos perpetrados pela FIFA e pelos privilegiados que lucram às custas do sofrimento dos trabalhadores sul-africanos.
O documentário “Fahrenheit 2010”, produzido e lançado a alguns meses do início do mega-evento esportivo do capitalismo mundial, denuncia a insanidade dos gastos envolvidos na realização dos projetos e na construção das obras, onde, a cada instante, dinheiro público é desperdiçado para a satisfação das empresas e do imperialismo. Mais do que isso, o filme mostra como é descarado o cinismo e o fascismo dos envolvidos na realização da Copa do Mundo na África do Sul, sejam eles estrangeiros ou sul-africanos que servem aos interesses do aparato internacional. O presidente do comitê organizador da Copa do Mundo da FIFA de 2010, Danny Jordaan, ao ser questionado no documentário sobre a evidente contradição de se construir mega-estádios ao invés de se investir, por exemplo, em hospitais, diz: “as crianças sonham em jogar futebol e não em ir para hospitais”, vejam só quanto descaramento! Um chefe da polícia fascista sul-africana - que desde já reprime e humilha o povo pobre para que se torne invisível enquanto a copa estiver sendo realizada - ao ser perguntado sobre possíveis tumultos causados pela revolta popular, responde que não há problemas, pois os responsáveis pela segurança já compraram alguns “brinquedinhos” (jatos de alta pressão, bombas, balas de borracha e outros tipos de instrumentos de violência) e estão “loucos para usá-los”. Fica evidente que mais essa iniciativa do imperialismo serve, como todas as outras, ao escárnio e exploração da classe operária e demais classes oprimidas.
O quadro no país africano deve ser bem analisado, tendo em vista que daqui a quatro anos o Brasil viverá a mesma situação: sediar um evento que, acima de tudo, busca obter lucros ainda mais exorbitantes para os grandes capitalistas agentes do imperialismo e subjugar de forma sórdida todo o povo trabalhador. Obras inúteis serão construídas, principalmente mega-estádios que nem de longe estão entre as prioridades para o desenvolvimento de nosso país; esquemas de corrupção e desvio de dinheiro público serão perpetrados por todos os cantos e o povo, como sempre acontece no sistema capitalista, será desprezado e explorado das formas mais vis e cruéis que se possa imaginar.
Todo os engodos e mentiras difundidos pelos agentes do capital financeiro internacional devem ser rechaçados. Os males causados pela realização da copa do mundo na África do Sul demonstram o quanto as iniciativas desse velho sistema sempre são, independentemente do caráter que possam aparentar, medidas anti-povo e pró-dominação. Abaixo as empreitadas do imperialismo! Que a luta do povo sul-africano sirva de exemplo para os trabalhadores brasileiros! Viva a resistência e a revolta popular!